segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dia do professor

Bueno, em primeiro lugar eu quero agradecer a todas as pessoas que ao longo do dia ligaram, mandaram mensagem, recado no Facebook e tudo o mais me felicitando pelo dia do professor. Quero dizer que pra mim é um orgulho imenso ser professor e fazer parte de um grupo de pessoas que acredita e se dedica tanto por essa profissão que, em alguns momento, parece estar jogada à sua própria sorte. Todos sabem que ser professor atualmente não é nem um pouco fácil. Os problemas que enfrentamos no dia a dia são de toda a sorte: falta de estrutura nas escolas, falta de reconhecimento da sociedade, falta de interesse dos alunos e, não sejamos hipócritas, o baixo salário. Mas tudo isso é superado por um grupo de pessoas que acredita que dificuldades devem ser superadas, que não se deve abandonar uma atividade tão importante e, principalmente, que a educação básica precisa de bons professores. Parabéns a esses profissionais, alguns deles meus colegas e amigos...
Hoje foi o dia em que a nossa profissão esteve estampada em jornais, comentada na televisão, falada por pessoas de diversas áreas. Bacana a campanha que a RBS lançou nesse fim de semana: "A educação precisa de respostas". Cheguei até a ver no Jornal do Almoço o Lasier Martins falando da importância da nossa profissão e reclamando das condições de trabalho, do péssimo salário, do fato de 2% dos estudantes desejarem ser professores, da falta - em um futuro próximo - de professores em sala de aula. Pasmem, concordei com o que ele disse! Acho que professor trabalha com muito amor, mas amor não coloca a mesa, amor não veste os filhos, amor não compra ingresso pra cinema, amor não paga as contas. Queria chegar no supermercado, comprar umas coisas e na hora de pagar dizer: "Olha só, eu sou professor, posso pagar em amor?". Devaneios à parte, Lasier, te decide, meu velho! É bonito falar isso no dia do professor, mas no dia em que os professores estão em greve tu e a RBS parecem estar mais preocupados com as férias dos alunos da rede pública do que com as reivindicações dos professores. Sei que existem uma série de críticas às greves como forma de protesto, mas não dá para negar que muitas vezes são as únicas armas que os professores tem para chamar a atenção para si e os problemas que enfrentam! Pedir por favor não vem ajudando muito...
Esse texto começou de um jeito e engrenou para outro porque o objetivo é justamente mostrar que a luta dos professores é diária e não se resume ao dia 15 de outubro. E a luta da sociedade pela educação de qualidade assim também deve ser! Hoje, mais do que parabéns aos professores, parabéns aqueles que - sendo ou não educadores - diariamente reafirmam a importância da educação como fator de transformação social, como elemento de libertação, como parte essencial do ser humano! Continuemos lutando!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Aluno ou estudante?

É engraçado como algumas pequenas coisas fazem diferença em sala de aula...
Antes de explicar um pouco essa frase, só queria dizer que a minha ausência deste espaço nas últimas semanas não significa o abandono dele, mas a correria que tem sido meu dia-a-dia ultimamente. Vou tentar ter mais assiduidade a este blog.

Enfim, a reflexão de hoje é fruto de quase dois meses de relação com os alunos. Não parece ser muito, cada turma deve ter tido no máximo 9 aulas comigo, mas já começa a aparecer a constituição de uma relação diferenciada entre o professor (eu) e os estudantes. E tudo isso devido a pequenas coisas que não são nem parte de um esforço para ser diferente, mas que fazem parte de alguém que pensa que todas as relações humanas devem ser baseadas no respeito e na quebra de pré-conceitos.
Logo que eu comecei a escrever esse blog eu pensei muito que uma das próximas postagens que eu faria seria sobre a palavra "aluno". Não sei se todos já pararam para pensar sobre isso, mas uma pessoa que foi muito importante para a minha formação já lá no segundo grau (naquela época era segundo grau ainda) um dia trouxe essa reflexão para mim e um grupo de amigos: qual é o significado da palavra aluno? "A" seria um prefixo grego, que tem significado de privação, negação. Já "luno" viria do latim "lumen", luz. Seria então o aluno um "sem luz"? Que precisaria de alguém que o levasse a luz que preencheria-o de conhecimento? Mais uma das formas de interpretação da tábula rasa? Não que eu seja um mestre em etimologia ou coisa assim, mas com uma pequena busca no Wikipédia mostra que essa interpretação de aluno como "sem luz" seria fruto de uma interpretação errônea da origem da palavra. Mesmo sendo uma etimologia falsificada, não deixa de ser verdade que muitas pessoas tem a percepção de que aqueles que estão na escola são passivos na educação, que recebem dos professores o ensino, conhecimento, valores... Disso não foge muito da etimologia proposta pelo Wikipédia que remete a criança de peito, lactante e diz que "o termo aluno aponta, portanto, para a ideia de alguém imaturo, que precisa ser alimentado na boca e exige ainda muitos cuidados paternais ou maternais". Mais uma vez é aquele que tem que ser levado ao alimento, passivo, inerte, desprovido de algo. Por isso sempre preferia a palavra "estudante", que no fim se refere à mesma coisa, mas sem toda aquela carga de passividade empregada na palavra "aluno". Mesmo assim, as vezes é complicado não escrever aluno, é digitado muito automaticamente no desenvolver do texto.
Independente da palavra, acho que o mais importante para um professor que espera que os estudantes (olha, quase escrevi aluno de novo) façam parte e entusiasmem-se pela educação seja entrar em sala de aula com o peito aberto e considerá-los como alguém não inferior. E é nesse espírito que eu entrei em todas as aulas até hoje e é a partir disso que aparecem as pequenas coisas que fazem uma grande diferença: dar boa tarde, perguntar se está tudo bem, dar um sorriso, pedir por favor, perguntar se alguém gostaria de fazer alguma pergunta ou tem alguma dúvida. E vocês aí devem pensar: "mas que nada a ver, o Bruno escreveu tudo aquilo antes para dizer que dar boa tarde faz diferença na educação" e eu digo: "Sim, faz muita diferença". No início os estudantes estranham: "Professor, porque tu sempre diz 'por favor' depois que pede para a gente fazer alguma coisa?", "Sôr, ninguém pergunta nada. Não adianta insistir!". Mas depois começam a aparecer os resultados: "Bah, o sôr é o único que sorri nas aulas", "Odeio quando algum professor manda eu fazer alguma coisa", "Sôr, eu tenho uma pergunta!".
O lance é que os estudantes tem que ir para a escola e eles querem acabar aproveitando aquele espaço para fazer algo que possa lhes dar prazer e diversão e enquanto os professores forem os chefes deles, nunca vão fazer parte da diversão. Se aproximar dos estudantes, encará-los como criaturas que pensam, que tem interesse em alguma coisa, que tem sentimentos, é um passo fundamental para fazer da escola um espaço menos agressivo e opressor. Não estão no conteúdo, na disposição das classes, na estrutura da escola, a opressão e a agressividade. Estão na forma com que as pessoas se relacionam e, fundamentalmente, na oposição de interesses de professores e estudantes. Enquanto professores encararem estudantes como alunos e estudantes encararem professores como patrões a escola estará fadada a permanecer na relação de opressão e sabotagem tão comum no sistema em que vivemos...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A parte boa da profissão

"Você é 10,
você é 100,
você é 1.000.
Você é o melhor
professor do Brasil"

Paga pouco, mas tem coisas que só o professor recebe. Trecho de uma cartinha que recebi hoje.
Valeu Gaby pelo carinho!

domingo, 3 de junho de 2012

O primeiro mês passou e algumas preocupações me atormentam

Depois de um mês de trabalho, sala de aula, correria, ônibus e tudo o mais que envolve o dia de um professor, é hora de parar um pouco e pensar o que deu certo, o que não deu e avaliar muita coisa. Reafirmo o sentimento de felicidade e prazer de acordar todos os dias pensando em pegar o ônibus e ir até Guaíba trabalhar. Apesar de sempre voltar para casa muito cansado, não vejo a hora de voltar a sala de aula no próximo dia...
Foi um mês repleto de primeiras vezes: a primeira vez como professor efetivo, a primeira reunião de professores, o primeiro conselho de classe, a primeira viagem de catamarã, o primeiro almoço na prefeitura, a primeira prova aplicada, o primeiro sábado letivo, os primeiros cadernos de alunos levados para casa para corrigir, etc. Em geral todas as experiências vem sendo muito interessantes, mas o que mais me faz pensar é sobre as provas aplicadas aos estudantes. O resultado observado foi bem aquém do que eu esperava. Muitos fatores tem que ser levados em consideração: a minha primeira prova foi aplicada após apenas 3 ou 4 aulas em cada turma, devido ao fim do semestre e a urgência de ter alguma nota para colocar no boletim. Isso porque o antigo professor, apesar de ter passado quase dois meses com eles, não fez avaliação alguma com as turmas. Infelizmente os alunos acabaram "sofrendo o pênalti". O novo professor chegou, cheio de boa vontade, cheio de textos e questões, louco para problematizar tudo e eles ainda estavam extremamente presos ao modelo "copie o livro didático" do antigo professor. É claro que uma prova um pouco mais elaborada ia ser muito complicada para eles.
Apesar de algumas notas bem boas (inclusive uma nota 10), muitos foram mal. E quando eu falo mal, é mal mesmo. Devido aos fatores que eu expliquei acima, resolvi propor provas um pouco diferentes: uma cruzadinha para o 7o ano e um caça-palavras para o 6o. Em geral o 6o ano foi melhor: apenas um terço, em média, das provas tiveram nota abaixo da média. A prova consistia em um caça palavras e um texto sobre o que é História e a pré-História com 15 lacunas para serem preenchidas com as palavras encontradas no caça-palavras. Mesmo tendo muitas notas boas, algumas respostas na prova eram "sem pé nem cabeça"... Ao ponto que eu pensei por muito tempo se eles estavam entendendo o texto e as palavras que estavam utilizando para completar as lacunas ou simplesmente estavam jogando as palavras aleatoriamente nas lacunas. Apareceram diversas palavras inexistentes, palavras femininas em lacunas que era precedidas por artigos masculinos e vice-versa... Enfim, mesmo com as notas boas, ainda fico bem preocupado se houve um bom entendimento da prova e, principalmente, do conteúdo.
Já no 7o ano a realidade foi mais preocupante. A prova era uma cruzadinha sobre o fim do Império Romano, início da Idade Média, Sociedade Medieval e Reino Franco, com 20 questões, todas com dicas aparentemente bem claras. Apesar de umas 4 ou 5 questões um pouco mais complicadas, tinha umas que eram impossíveis de não serem entendidas logo de cara pelo tanto que eu insisti em determinados conceitos nas aulas. Era o que eu pensava. Praticamente todas as provas responderam pouco mais de metade das questões. Em muito poucas eu percebi um esforço de pensar e procurar uma resposta que tivesse relação com os conteúdos trabalhados. Será que querendo facilitar, eu dificultei a prova? Será que as dicas não estavam claras? Ou será que a maior parte dos alunos simplesmente não estava a fim de fazer nada? No fim das contas acho que um pouco de tudo isso.
Agora a dúvida que se apresenta é: como proceder? Como fazer das aulas uma passagem mais tranquila entre aulas mecânicas envolvendo quase sempre copiar os textos do livro e aulas mais problematizantes, que necessitam de maior envolvimento ativo dos alunos? Ou será que é necessário fazer essa passagem tranquila? Talvez não seria melhor provocar mesmo um choque de contrastes nos alunos? Enfim, sei que são questões que não envolvem somente a minha forma de pensar a aula, mas a própria postura e dedicação daqueles que deveriam ser sujeitos ativos de sua própria educação, mas como alguém preocupado com o aprendizado deles não consigo deixar de fazer uma auto-crítica das minhas ações. São algumas preocupações que passam pela minha cabeça constantemente. Talvez seja até meio precoce esse tipo de preocupação afinal faz apenas um mês que estou em sala de aula com eles, mas é inevitável não me envolver com tais questões. Espero em algum próximo texto trazer algum retorno positivo para elas.

Uma boa semana a todos. Outra hora eu volto!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sobre o concurso do magistério...


Muito tem se falado na mídia e nas redes sociais sobre a altíssima proporção de candidatos reprovados no último concurso do magistério estadual no Rio Grande do Sul. De posições bem ao estilo Lasier Martins, afirmando que esse alto índice de reprovação só mostra como os professores são pessimamente formados e que isso se reflete na péssima qualidade do ensino público (desculpa, Lasier, mas vai conhecer um pouco mais a fundo o ensino público e saber onde realmente estão os problemas. Sobre a formação dos professores, num próximo momento, eu escrevo sobre isso aqui) até o pessoal mais pragmático afirmando que uma prova que reprova mais de 90% dos candidatos não pode estar correspondendo com a realidade. De críticas aos professores a críticas as provas, muitos se esqueceram de olhar para a própria questão em debate: o ensino público.
Com certeza diversos fatores levaram a reprovação em massa. Mas sabe qual eu acho o mais importante? O de que a profissão de professor está se tornando cada vez mais desinteressante... Por que isso? Porque eu acredito que 80%, pelo menos, das pessoas que foram lá fazer o concurso o fizeram por tabela, só por fazer. Alguém realmente vai se dedicar a estudar para um concurso e ficar feliz em receber menos de R$ 800,00 e ainda trabalhar em um sistema educacional como o do estado do Rio Grande do Sul que só não está morto por falta de quem decrete a morte anunciada? Muitos desses que passaram não vão trabalhar por muito tempo na rede estadual, muitos vão continuar fazendo concursos melhores, vão passar e vão evadir. Esse não é o último concurso da vida desses professores. E agora, por que se matar estudando se todos já tem consciência que vai ser algo passageiro, até algo melhor aparecer? Não há tesão, não há vontade de se dedicar, não há muita felicidade em ser aprovado em um concurso que vai te levar a um emprego que remunera mal, que apresenta condições extremamente precárias de trabalho, que a população em geral e, principalmente, os "nossos governantes" não dão o menor crédito.
É só ver os concursos da área jurídica, por exemplo. Em nenhum desses o salário do candidato aprovado e convocado ao trabalho é menor do que R$ 3.000 ou R$ 4.000 e isso levando em conta que exigem escolaridade básica somente. Se formos olhar para aqueles concursos de diversas áreas que exigem formação superior, esse valor pode chegar a números bem mais altos. E são nessas carreiras que há uma penca de “concurseiros”, gente se matando de estudar, pagando cursinhos caros e estudando por anos e anos a fio. É uma questão de matemática econômica: vale a pena gastar R$ 2.000 em um cursinho que te prepara para uma carreira que tu vai ganhar pelo menos o dobro disso por mês. E será que vale a pena investir mais dinheiro (além de todo aquele gasto na formação superior – faculdade, livros, Xerox, alimentação, transporte, etc.) em um concurso que vai te remunerar tão cretinamente? Eu mesmo comprei uma apostila de R$ 40,00 para estudar porque estava desesperado, sem emprego e sem grana. Mas assim que fui chamado a trabalhar em Guaíba, atirei pro alto esse concurso do estado. O fato de ter passado talvez tenha sido uma mera coincidência.
Enfim, já estou me alongando em um texto que era só para ser uma resposta a um comentário no Facebook. Para resumir, acho que sim, as faculdades não preparam os estudantes para a vida de professor. Mas a função da faculdade não deve ser aprovar os estudantes em provas de concursos que todos sabemos que são baseadas em modelos bem ultrapassados e em uma decoreba desgraçada. A prova foi, sim, horrivelmente formulada. Até agora não entendi direito a distribuição do número de questões e do valor de cada uma (sendo que as questões específicas eram em menor número e tinham o menor valor na composição da nota). Mas o pior de tudo, no meu ponto de vista, é como isso reflete o desinteresse geral que atingiu até mesmo o grupo que é o último a abandonar o barco da educação – os professores – quando se trata do magistério estadual do Rio Grande do Sul. Se liga, governo, daqui a pouco não vai ter mais ninguém interessado em trabalhar nas escolas estaduais...

domingo, 20 de maio de 2012

Fica a dica

Fiquei muito feliz ao abrir o Facebook no meio da tarde de hoje e ver um link publicado por uma amiga. Era o link do Era uma vez na escola, blog da minha grande amiga e colega de faculdade e profissão, Laura.
Ela tem sido um ponto de apoio muito importante na minha experiência docente, me dando uma força gigantesca desde o começo da minha jornada.
Vai ser bem legal ter a Laura e seu blog como interlocutores do Dia de Professor. Por várias e várias razões, sugiro a leitura e o acompanhamento do Era uma vez na escola.

Outra hora volto com novidades.
Boa semana a todos.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pessoal, venho aqui hoje para agradecer a atenção e o carinho de todos que vem neste espaço para ler e comentar as postagens. A resposta de vocês está sendo bem legal e sempre fico muito contente com os comentários aqui, no Facebook ou mesmo aqueles feitos pessoalmente a mim. Por enquanto este espaço está sendo pouco atualizado, um pouco por falta de tempo para escrever mas também devido a ainda recente experiência que eu tenho com as turmas. Mesmo assim, desde 28 de abril já foram contabilizados mais de 300 acessos a esta página, o que mostra o interesse que tem gerado em algumas pessoas. Acho que o mais legal de escrever é perceber que as tuas ideias encontram interlocutores. Fiquem atentos que, apesar dos motivos acima explicados, eu vou tentar manter esse espaço sempre ativo.
Se alguém tiver alguma recomendação de textos, reflexões, etc., por favor, me escreva.

Enfim, o retorno desse blog está sendo extremamente positivo e tem conseguido ser um ponto a mais de apoio nos momentos complicados pelos quais eu me deparo.

Muito obrigado a todos! Até a próxima postagem!