segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dia do professor

Bueno, em primeiro lugar eu quero agradecer a todas as pessoas que ao longo do dia ligaram, mandaram mensagem, recado no Facebook e tudo o mais me felicitando pelo dia do professor. Quero dizer que pra mim é um orgulho imenso ser professor e fazer parte de um grupo de pessoas que acredita e se dedica tanto por essa profissão que, em alguns momento, parece estar jogada à sua própria sorte. Todos sabem que ser professor atualmente não é nem um pouco fácil. Os problemas que enfrentamos no dia a dia são de toda a sorte: falta de estrutura nas escolas, falta de reconhecimento da sociedade, falta de interesse dos alunos e, não sejamos hipócritas, o baixo salário. Mas tudo isso é superado por um grupo de pessoas que acredita que dificuldades devem ser superadas, que não se deve abandonar uma atividade tão importante e, principalmente, que a educação básica precisa de bons professores. Parabéns a esses profissionais, alguns deles meus colegas e amigos...
Hoje foi o dia em que a nossa profissão esteve estampada em jornais, comentada na televisão, falada por pessoas de diversas áreas. Bacana a campanha que a RBS lançou nesse fim de semana: "A educação precisa de respostas". Cheguei até a ver no Jornal do Almoço o Lasier Martins falando da importância da nossa profissão e reclamando das condições de trabalho, do péssimo salário, do fato de 2% dos estudantes desejarem ser professores, da falta - em um futuro próximo - de professores em sala de aula. Pasmem, concordei com o que ele disse! Acho que professor trabalha com muito amor, mas amor não coloca a mesa, amor não veste os filhos, amor não compra ingresso pra cinema, amor não paga as contas. Queria chegar no supermercado, comprar umas coisas e na hora de pagar dizer: "Olha só, eu sou professor, posso pagar em amor?". Devaneios à parte, Lasier, te decide, meu velho! É bonito falar isso no dia do professor, mas no dia em que os professores estão em greve tu e a RBS parecem estar mais preocupados com as férias dos alunos da rede pública do que com as reivindicações dos professores. Sei que existem uma série de críticas às greves como forma de protesto, mas não dá para negar que muitas vezes são as únicas armas que os professores tem para chamar a atenção para si e os problemas que enfrentam! Pedir por favor não vem ajudando muito...
Esse texto começou de um jeito e engrenou para outro porque o objetivo é justamente mostrar que a luta dos professores é diária e não se resume ao dia 15 de outubro. E a luta da sociedade pela educação de qualidade assim também deve ser! Hoje, mais do que parabéns aos professores, parabéns aqueles que - sendo ou não educadores - diariamente reafirmam a importância da educação como fator de transformação social, como elemento de libertação, como parte essencial do ser humano! Continuemos lutando!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Aluno ou estudante?

É engraçado como algumas pequenas coisas fazem diferença em sala de aula...
Antes de explicar um pouco essa frase, só queria dizer que a minha ausência deste espaço nas últimas semanas não significa o abandono dele, mas a correria que tem sido meu dia-a-dia ultimamente. Vou tentar ter mais assiduidade a este blog.

Enfim, a reflexão de hoje é fruto de quase dois meses de relação com os alunos. Não parece ser muito, cada turma deve ter tido no máximo 9 aulas comigo, mas já começa a aparecer a constituição de uma relação diferenciada entre o professor (eu) e os estudantes. E tudo isso devido a pequenas coisas que não são nem parte de um esforço para ser diferente, mas que fazem parte de alguém que pensa que todas as relações humanas devem ser baseadas no respeito e na quebra de pré-conceitos.
Logo que eu comecei a escrever esse blog eu pensei muito que uma das próximas postagens que eu faria seria sobre a palavra "aluno". Não sei se todos já pararam para pensar sobre isso, mas uma pessoa que foi muito importante para a minha formação já lá no segundo grau (naquela época era segundo grau ainda) um dia trouxe essa reflexão para mim e um grupo de amigos: qual é o significado da palavra aluno? "A" seria um prefixo grego, que tem significado de privação, negação. Já "luno" viria do latim "lumen", luz. Seria então o aluno um "sem luz"? Que precisaria de alguém que o levasse a luz que preencheria-o de conhecimento? Mais uma das formas de interpretação da tábula rasa? Não que eu seja um mestre em etimologia ou coisa assim, mas com uma pequena busca no Wikipédia mostra que essa interpretação de aluno como "sem luz" seria fruto de uma interpretação errônea da origem da palavra. Mesmo sendo uma etimologia falsificada, não deixa de ser verdade que muitas pessoas tem a percepção de que aqueles que estão na escola são passivos na educação, que recebem dos professores o ensino, conhecimento, valores... Disso não foge muito da etimologia proposta pelo Wikipédia que remete a criança de peito, lactante e diz que "o termo aluno aponta, portanto, para a ideia de alguém imaturo, que precisa ser alimentado na boca e exige ainda muitos cuidados paternais ou maternais". Mais uma vez é aquele que tem que ser levado ao alimento, passivo, inerte, desprovido de algo. Por isso sempre preferia a palavra "estudante", que no fim se refere à mesma coisa, mas sem toda aquela carga de passividade empregada na palavra "aluno". Mesmo assim, as vezes é complicado não escrever aluno, é digitado muito automaticamente no desenvolver do texto.
Independente da palavra, acho que o mais importante para um professor que espera que os estudantes (olha, quase escrevi aluno de novo) façam parte e entusiasmem-se pela educação seja entrar em sala de aula com o peito aberto e considerá-los como alguém não inferior. E é nesse espírito que eu entrei em todas as aulas até hoje e é a partir disso que aparecem as pequenas coisas que fazem uma grande diferença: dar boa tarde, perguntar se está tudo bem, dar um sorriso, pedir por favor, perguntar se alguém gostaria de fazer alguma pergunta ou tem alguma dúvida. E vocês aí devem pensar: "mas que nada a ver, o Bruno escreveu tudo aquilo antes para dizer que dar boa tarde faz diferença na educação" e eu digo: "Sim, faz muita diferença". No início os estudantes estranham: "Professor, porque tu sempre diz 'por favor' depois que pede para a gente fazer alguma coisa?", "Sôr, ninguém pergunta nada. Não adianta insistir!". Mas depois começam a aparecer os resultados: "Bah, o sôr é o único que sorri nas aulas", "Odeio quando algum professor manda eu fazer alguma coisa", "Sôr, eu tenho uma pergunta!".
O lance é que os estudantes tem que ir para a escola e eles querem acabar aproveitando aquele espaço para fazer algo que possa lhes dar prazer e diversão e enquanto os professores forem os chefes deles, nunca vão fazer parte da diversão. Se aproximar dos estudantes, encará-los como criaturas que pensam, que tem interesse em alguma coisa, que tem sentimentos, é um passo fundamental para fazer da escola um espaço menos agressivo e opressor. Não estão no conteúdo, na disposição das classes, na estrutura da escola, a opressão e a agressividade. Estão na forma com que as pessoas se relacionam e, fundamentalmente, na oposição de interesses de professores e estudantes. Enquanto professores encararem estudantes como alunos e estudantes encararem professores como patrões a escola estará fadada a permanecer na relação de opressão e sabotagem tão comum no sistema em que vivemos...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A parte boa da profissão

"Você é 10,
você é 100,
você é 1.000.
Você é o melhor
professor do Brasil"

Paga pouco, mas tem coisas que só o professor recebe. Trecho de uma cartinha que recebi hoje.
Valeu Gaby pelo carinho!

domingo, 3 de junho de 2012

O primeiro mês passou e algumas preocupações me atormentam

Depois de um mês de trabalho, sala de aula, correria, ônibus e tudo o mais que envolve o dia de um professor, é hora de parar um pouco e pensar o que deu certo, o que não deu e avaliar muita coisa. Reafirmo o sentimento de felicidade e prazer de acordar todos os dias pensando em pegar o ônibus e ir até Guaíba trabalhar. Apesar de sempre voltar para casa muito cansado, não vejo a hora de voltar a sala de aula no próximo dia...
Foi um mês repleto de primeiras vezes: a primeira vez como professor efetivo, a primeira reunião de professores, o primeiro conselho de classe, a primeira viagem de catamarã, o primeiro almoço na prefeitura, a primeira prova aplicada, o primeiro sábado letivo, os primeiros cadernos de alunos levados para casa para corrigir, etc. Em geral todas as experiências vem sendo muito interessantes, mas o que mais me faz pensar é sobre as provas aplicadas aos estudantes. O resultado observado foi bem aquém do que eu esperava. Muitos fatores tem que ser levados em consideração: a minha primeira prova foi aplicada após apenas 3 ou 4 aulas em cada turma, devido ao fim do semestre e a urgência de ter alguma nota para colocar no boletim. Isso porque o antigo professor, apesar de ter passado quase dois meses com eles, não fez avaliação alguma com as turmas. Infelizmente os alunos acabaram "sofrendo o pênalti". O novo professor chegou, cheio de boa vontade, cheio de textos e questões, louco para problematizar tudo e eles ainda estavam extremamente presos ao modelo "copie o livro didático" do antigo professor. É claro que uma prova um pouco mais elaborada ia ser muito complicada para eles.
Apesar de algumas notas bem boas (inclusive uma nota 10), muitos foram mal. E quando eu falo mal, é mal mesmo. Devido aos fatores que eu expliquei acima, resolvi propor provas um pouco diferentes: uma cruzadinha para o 7o ano e um caça-palavras para o 6o. Em geral o 6o ano foi melhor: apenas um terço, em média, das provas tiveram nota abaixo da média. A prova consistia em um caça palavras e um texto sobre o que é História e a pré-História com 15 lacunas para serem preenchidas com as palavras encontradas no caça-palavras. Mesmo tendo muitas notas boas, algumas respostas na prova eram "sem pé nem cabeça"... Ao ponto que eu pensei por muito tempo se eles estavam entendendo o texto e as palavras que estavam utilizando para completar as lacunas ou simplesmente estavam jogando as palavras aleatoriamente nas lacunas. Apareceram diversas palavras inexistentes, palavras femininas em lacunas que era precedidas por artigos masculinos e vice-versa... Enfim, mesmo com as notas boas, ainda fico bem preocupado se houve um bom entendimento da prova e, principalmente, do conteúdo.
Já no 7o ano a realidade foi mais preocupante. A prova era uma cruzadinha sobre o fim do Império Romano, início da Idade Média, Sociedade Medieval e Reino Franco, com 20 questões, todas com dicas aparentemente bem claras. Apesar de umas 4 ou 5 questões um pouco mais complicadas, tinha umas que eram impossíveis de não serem entendidas logo de cara pelo tanto que eu insisti em determinados conceitos nas aulas. Era o que eu pensava. Praticamente todas as provas responderam pouco mais de metade das questões. Em muito poucas eu percebi um esforço de pensar e procurar uma resposta que tivesse relação com os conteúdos trabalhados. Será que querendo facilitar, eu dificultei a prova? Será que as dicas não estavam claras? Ou será que a maior parte dos alunos simplesmente não estava a fim de fazer nada? No fim das contas acho que um pouco de tudo isso.
Agora a dúvida que se apresenta é: como proceder? Como fazer das aulas uma passagem mais tranquila entre aulas mecânicas envolvendo quase sempre copiar os textos do livro e aulas mais problematizantes, que necessitam de maior envolvimento ativo dos alunos? Ou será que é necessário fazer essa passagem tranquila? Talvez não seria melhor provocar mesmo um choque de contrastes nos alunos? Enfim, sei que são questões que não envolvem somente a minha forma de pensar a aula, mas a própria postura e dedicação daqueles que deveriam ser sujeitos ativos de sua própria educação, mas como alguém preocupado com o aprendizado deles não consigo deixar de fazer uma auto-crítica das minhas ações. São algumas preocupações que passam pela minha cabeça constantemente. Talvez seja até meio precoce esse tipo de preocupação afinal faz apenas um mês que estou em sala de aula com eles, mas é inevitável não me envolver com tais questões. Espero em algum próximo texto trazer algum retorno positivo para elas.

Uma boa semana a todos. Outra hora eu volto!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sobre o concurso do magistério...


Muito tem se falado na mídia e nas redes sociais sobre a altíssima proporção de candidatos reprovados no último concurso do magistério estadual no Rio Grande do Sul. De posições bem ao estilo Lasier Martins, afirmando que esse alto índice de reprovação só mostra como os professores são pessimamente formados e que isso se reflete na péssima qualidade do ensino público (desculpa, Lasier, mas vai conhecer um pouco mais a fundo o ensino público e saber onde realmente estão os problemas. Sobre a formação dos professores, num próximo momento, eu escrevo sobre isso aqui) até o pessoal mais pragmático afirmando que uma prova que reprova mais de 90% dos candidatos não pode estar correspondendo com a realidade. De críticas aos professores a críticas as provas, muitos se esqueceram de olhar para a própria questão em debate: o ensino público.
Com certeza diversos fatores levaram a reprovação em massa. Mas sabe qual eu acho o mais importante? O de que a profissão de professor está se tornando cada vez mais desinteressante... Por que isso? Porque eu acredito que 80%, pelo menos, das pessoas que foram lá fazer o concurso o fizeram por tabela, só por fazer. Alguém realmente vai se dedicar a estudar para um concurso e ficar feliz em receber menos de R$ 800,00 e ainda trabalhar em um sistema educacional como o do estado do Rio Grande do Sul que só não está morto por falta de quem decrete a morte anunciada? Muitos desses que passaram não vão trabalhar por muito tempo na rede estadual, muitos vão continuar fazendo concursos melhores, vão passar e vão evadir. Esse não é o último concurso da vida desses professores. E agora, por que se matar estudando se todos já tem consciência que vai ser algo passageiro, até algo melhor aparecer? Não há tesão, não há vontade de se dedicar, não há muita felicidade em ser aprovado em um concurso que vai te levar a um emprego que remunera mal, que apresenta condições extremamente precárias de trabalho, que a população em geral e, principalmente, os "nossos governantes" não dão o menor crédito.
É só ver os concursos da área jurídica, por exemplo. Em nenhum desses o salário do candidato aprovado e convocado ao trabalho é menor do que R$ 3.000 ou R$ 4.000 e isso levando em conta que exigem escolaridade básica somente. Se formos olhar para aqueles concursos de diversas áreas que exigem formação superior, esse valor pode chegar a números bem mais altos. E são nessas carreiras que há uma penca de “concurseiros”, gente se matando de estudar, pagando cursinhos caros e estudando por anos e anos a fio. É uma questão de matemática econômica: vale a pena gastar R$ 2.000 em um cursinho que te prepara para uma carreira que tu vai ganhar pelo menos o dobro disso por mês. E será que vale a pena investir mais dinheiro (além de todo aquele gasto na formação superior – faculdade, livros, Xerox, alimentação, transporte, etc.) em um concurso que vai te remunerar tão cretinamente? Eu mesmo comprei uma apostila de R$ 40,00 para estudar porque estava desesperado, sem emprego e sem grana. Mas assim que fui chamado a trabalhar em Guaíba, atirei pro alto esse concurso do estado. O fato de ter passado talvez tenha sido uma mera coincidência.
Enfim, já estou me alongando em um texto que era só para ser uma resposta a um comentário no Facebook. Para resumir, acho que sim, as faculdades não preparam os estudantes para a vida de professor. Mas a função da faculdade não deve ser aprovar os estudantes em provas de concursos que todos sabemos que são baseadas em modelos bem ultrapassados e em uma decoreba desgraçada. A prova foi, sim, horrivelmente formulada. Até agora não entendi direito a distribuição do número de questões e do valor de cada uma (sendo que as questões específicas eram em menor número e tinham o menor valor na composição da nota). Mas o pior de tudo, no meu ponto de vista, é como isso reflete o desinteresse geral que atingiu até mesmo o grupo que é o último a abandonar o barco da educação – os professores – quando se trata do magistério estadual do Rio Grande do Sul. Se liga, governo, daqui a pouco não vai ter mais ninguém interessado em trabalhar nas escolas estaduais...

domingo, 20 de maio de 2012

Fica a dica

Fiquei muito feliz ao abrir o Facebook no meio da tarde de hoje e ver um link publicado por uma amiga. Era o link do Era uma vez na escola, blog da minha grande amiga e colega de faculdade e profissão, Laura.
Ela tem sido um ponto de apoio muito importante na minha experiência docente, me dando uma força gigantesca desde o começo da minha jornada.
Vai ser bem legal ter a Laura e seu blog como interlocutores do Dia de Professor. Por várias e várias razões, sugiro a leitura e o acompanhamento do Era uma vez na escola.

Outra hora volto com novidades.
Boa semana a todos.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pessoal, venho aqui hoje para agradecer a atenção e o carinho de todos que vem neste espaço para ler e comentar as postagens. A resposta de vocês está sendo bem legal e sempre fico muito contente com os comentários aqui, no Facebook ou mesmo aqueles feitos pessoalmente a mim. Por enquanto este espaço está sendo pouco atualizado, um pouco por falta de tempo para escrever mas também devido a ainda recente experiência que eu tenho com as turmas. Mesmo assim, desde 28 de abril já foram contabilizados mais de 300 acessos a esta página, o que mostra o interesse que tem gerado em algumas pessoas. Acho que o mais legal de escrever é perceber que as tuas ideias encontram interlocutores. Fiquem atentos que, apesar dos motivos acima explicados, eu vou tentar manter esse espaço sempre ativo.
Se alguém tiver alguma recomendação de textos, reflexões, etc., por favor, me escreva.

Enfim, o retorno desse blog está sendo extremamente positivo e tem conseguido ser um ponto a mais de apoio nos momentos complicados pelos quais eu me deparo.

Muito obrigado a todos! Até a próxima postagem!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Primeiras impressões

Bueno, agora sim! Hoje é sexta-feira e a felicidade é não ter que preparar a aula que eu vou dar amanhã. Isso porque amanhã será sábado e não terá aula!

Nesses últimos dias devido a correria de preparar aula, dar aula, ir e voltar de Guaíba, além de outras tarefas pessoais, fiquei bem ausente de quase tudo: casa, amigos, dissertação e este blog. Há muito queria voltar aqui e escrever um texto sobre as primeiras impressões da escola em que estou trabalhando, mas não queria que fosse algo superficial, queria poder me dedicar a esta análise do local e pessoas que conheci.

Aqui estou, então. Comecemos pelo local. A escola a que me encaminharam foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental José Carlos Ferreira. É uma escola situada em um bairro um pouco afastado do centro de Guaíba, no bairro Pedras Brancas. Para vocês terem ideia de quão afastado é, existe um pedágio separando a localidade do centro da cidade. Acho que o pedágio seja, talvez, a causa de uma das principais características do bairro: o isolamento. Não só físico - dos 10km e um pedágio -, como simbólico. Este é um bairro que mescla características rurais com urbanas e que talvez a presença do Estado no cotidiano daquelas pessoas seja a própria escola. Tenho a impressão que muitas vezes eles não se sentem parte de uma cidade, mas tem suas identidades vinculadas aquela localidade. O que não quer dizer que eu vejo isso como um problema, mas que pode ser causa de um dos outros grandes problemas que eu vejo: a carência. E aí é uma carência econômica, apesar de que, por ter características rurais, não me parece que o bairro sofra de problemas econômicos a ponto que possa-se dizer que os seus moradores vivam na miséria. Também não é essa a impressão que os alunos me dão. Ainda assim, é um bairro relativamente pobre. Porém, acho que a forma marcante da carência é aquela da falta de interesse por eles. Por essas razões, o colégio é o centro do bairro. É uma das referências que faz com que eles não se sintam tão isolados/abandonados pelo Estado. E é possível ver isso num misto de admiração e orgulho que a escola representa na comunidade. Conversando com alguns professores, tive a confirmação de algo que eu conjecturava: a comunidade e a escola são muito próximas. Isso me deixou muito feliz, porque dá um significado muito maior a esse espaço. Ao meu ver, a escola não deve ser espaço só dos estudantes, mas de toda a comunidade que a cerca.

Fui muito bem recebido na escola. Seja por seu corpo docente, quanto pela direção e demais funcionários. Entre os estudantes percebia-se aquele alvoroço pela chegada de um professor novo. Alguns deles vieram falar comigo, perguntando para quais turmas eu daria aula e de qual matéria, o que prontamente foi respondido. Confesso que me senti um tanto estranho com o olhar dos alunos. Acho que um pouco de timidez, mas também de um pouco de receio de não cumprir as expectativas que aqueles olhos curiosos depositavam neste novo professor. Pois bem, as minhas turmas serão três do sexto ano e outras três do sétimo (antigas quintas e sextas-séries, respectivamente). Como fui conhecer a escola numa quarta-feira, não tive aula nesse dia. Quarta-feira é o dia em que os professores de História e Geografia não dão aula no município para se dedicarem as atividades extra-classe. Mas no próximo dia (quinta-feira, 3 de maio), eu já encararia duas turmas de sétimo ano. Não vou descrever turma por turma, mas de forma geral são turmas não muito grandes (quem dá aula na rede estadual sabe como pode ser grande o números em uma sala). Entre 20 e 30 alunos em cada sala, sendo as turmas do sétimo ano menores do que as do sexto. As turmas do sexto ano são as mais complicadas de trabalhar. Muitos alunos ainda são bastante imaturos, dispersam com muita facilidade e um bom número apresenta problemas cognitivos moderados a graves. Isso faz com que as aulas sejam sempre muito truncadas. Apesar de ter conversado intensamente com eles na primeira aula sobre o fato de que as aulas dependem tanto deles quanto de mim, foi perceptível a ineficiência desta conversa na formação de um espírito responsável em sala de aula. Muitos não conseguem se concentrar por muito tempo e alguns tem dificuldades em pontos básicos da alfabetização como ler, escrever, somar e diminuir. Além disso, as turmas de sexto ano combinam em uma mesma sala, alunos de 10 anos e alunos de 14 ou 15 anos. Apesar de tudo isso, a imensa maioria deles foi muito receptiva com a minha chegada e foram atenciosos e respeitosos, o que não significa que eu não tive que, insistentemente, pedir para que fizessem silêncio, prestassem atenção ou parassem de frescura.

Já nas turmas de sétimo ano as coisas funcionam um pouco melhor. Já são mais maduros e tem uma noção um pouco maior do que é o espaço escolar. Os problemas cognitivos já não aparecem com tanta frequencia. São turmas menores, o que torna o contato com cada aluno um pouco mais próximo. Eles tem uma consciência maior de quando estão errados. O que não os impedem de gritar, bagunçar ou ficar de arreganho. A diferença é que, quando chamada a atenção, eles se sentem um pouco culpados. Alguns alunos dessas turmas são casos mais complicados, mas é algo que não impede que a aula, como um todo, seja mais tranquila e cumpra seus objetivos. Ontem eu recebi uma grata surpresa. Uma das turmas do sétimo ano me escolheu como professor conselheiro da turma. Fiquei muito feliz com a notícia e hoje eu conversei com eles sobre as responsabilidades que isso me imputava. Acho que eles entenderam que isso vai nos tornar mais próximos e que, em alguns momentos, isso pode não ser legal. Isso porque, no geral, eu que vou ser o responsável por intermediar a relação deles com a escola. E eu que vou fazer a maior parte da cobrança sobre eles. De qualquer forma, acho que essa turma não trará grandes problemas que precisem de conversas mais sérias. Hoje mesmo fizemos um acordo na aula que foi fielmente cumprido por ambas as partes, mas em outro post eu comento sobre isso.

Outra coisa que não falei foi sobre a estrutura da escola. Esse é outro ponto favorável para quem trabalha por lá. A escola é muito boa em termos de estrutura. As salas são bem adequadas ao tamanho das turmas, há uma pequena biblioteca, os banheiros estão bem conservados, há uma sala de informática bem equipada, além de equipamentos audiovisuais bem atualizados permitindo, inclusive, que sejam levados à sala de aula. A sala dos professores, apesar de eu passar pouco tempo lá, é bem confortável. O único porém, e alvo da reclamação de 9 entre cada 10 estudantes, é a situação da quadra de futebol. O estado dela, porém, é explicado pelas obras que estão ocorrendo na escola. Além da reforma da quadra, estão sendo construídas outras salas de aula. Não comentei também sobre outra característica interessante da escola, por não querer dar demasiado destaque para ela: por ficar localizada em uma região afastada do centro, os docentes que lecionam lá recebem um auxílio financeiro referente ao difícil acesso. Como sair de Porto Alegre e ir até Guaíba é difícil para mim, melhor ganhar um pouco mais por isso, né?! Mas talvez esse seja o menor dos atrativos que eu vi nessa escola.

Em geral, as primeiras impressões foram essas. O saldo das dificuldades/qualidades é bem positivo, ao meu ver. Acho que a escola apresenta ótimas condições para o exercício de uma educação de qualidade, que forme cidadãos conscientes e inteligentes. Em outro post eu explico esse comentário mais detalhadamente, mas eu vejo que o grupo de professores que está lá é bem capaz de tornar isso em realidade. Estou chegando, querendo muito acrescentar coisas positivas para essa galera. O que vem em seguida ainda está por ser descoberto.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Rapidinha II

Com essa loucura de começar a lecionar de uma hora pra outra, estou bem sem tempo para escrever um pouco sobre como foi a primeira semana de aulas e dar um retorno para aqueles que acompanham esse blog.

Para não pensarem que eu já abandonei o barco, passo para dizer que entre momentos bons e alguns ruins, eu sobrevivi. Mas acredito que o mais importante é: sobrevivi e tenho cada vez mais convicção de que é possível fazer uma escola diferente.

Seguirei em frente e logo eu volto com novidades.

Fui pra Guaíba!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Rapidinha

Postagem rápida só para não passar em branco. No fim de semana, se der tempo, escrevo sobre as impressões gerais dos primeiros dias na escola. Cuidado, a cena abaixo contém fatos reais:

Questionário para conhecer os estudantes, o interesse deles pelas aulas e pela escola. Última pergunta: "O que você mudaria na escola"...
Um estudante começa a resposta por: "O salário dos professores [...]".

Acho que eu já tenho meu preferido! Só espero que com isso ele não diga que o salário deveria ser menor...

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Uma prévia do que está por vir...

Guaíba, 9h30min, Secretaria Municipal de Educação. Conversa a respeito da escola e horários onde Bruno dará aula.
Bruno diz: Ah, e quando eu começo em sala de aula?
Edi, assessora técnica de História e Geografia: Hoje de tarde tu pode se apresentar na escola e amanhã já começam as aulas.

O pavor percorre o seu corpo inteiro. Concentrado o máximo para disfarçar o nervosismo e para parecer entusiasmado, Bruno exclama, com um sorriso tímido:
- Pô, mas que beleza!

Aguardem, cenas de tensão, nervosismo e angústia no temido "O primeiro dia de um professor".

sábado, 28 de abril de 2012

O início de uma nova história

Olá leitores e amigos.
Escrevo aqui para explicar um pouco das minhas intenções para esse blog. Começo contando um pouco sobre mim, que julgo ser extremamente importante para o entendimento das motivações que me levam a pensar e escrever sobre os temas tratados aqui.

No segundo semestre de 2008 eu concluí o curso de História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Apesar de ter me formado como licenciado em História, as minhas únicas experiências com a docência tinham ocorrido nos estágios curriculares obrigatórios. Os dois estágios - um em Séries Finais do Ensino Fundamental e outro em Ensino Médio - transcorreram bem, em alguns momentos com maiores dificuldades, mas no geral, bem. Ao fim dessas experiências, o sentimento que vigorava na minha expectativa profissional era o desejo de lecionar de forma integral, acompanhar as turmas e os estudantes ao longo de um ano inteiro e não só por dois ou três meses, como no estágio. Isso porque, em geral, as dificuldades do dia-a-dia da sala de aula acabaram sendo superadas e, quando parecia que havíamos, eu e os estudantes, entrado em sintonia, terminava o período de aulas exigido no estágio. Então sempre ficou aquela vontade de aproveitar melhor uma relação construída ao longo das horas de aula...
Mesmo com essa vontade de trabalhar como professor, acabei enveredando por outras experiências. Trabalhei na área da pesquisa em História por um ano no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul. Em 2010, ingressei no curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo. Essa experiência, que hoje conta-se em mais de dois anos teve momentos de altos e baixos. Se a expectativa de fazer pesquisa em História, de contribuir para a construção do conhecimento do nosso passado me motivavam a estudar e buscar documentos, a solidão dessas tarefas me matou no cansaço. Acabei descobrindo que para mim, a pesquisa em História se mostrou muito monótona e solitária. Eu precisava de mais do que isso. Precisava de uma rotina mais dinâmica, desafiadora. Os resultados da minha pesquisa estão parecendo bastante promissores. Acredito que haveria muitos pontos para continuar a pesquisar, mas a minha vida acadêmica se encerra no mestrado, pelo menos por enquanto.
Isso porque, desde o dia 13 de abril de 2012 uma nova perspectiva se revelou. Foi neste dia que eu fui convocado para exercer as atividades de professor de história na rede municipal de educação em Guaíba. Apesar de ter ficado atônito em um primeiro momento, a excitação logo tomou conta de mim e, desde esse dia, não consigo parar de pensar em outra coisa. A ansiedade de iniciar o trabalho, de conhecer a escola, professores e, principalmente, os estudantes, é muito grande.

Quero deixar claro que essa vontade de trabalhar com a educação não é somente por ser uma atividade em muitos pontos oposta à rotina da pesquisa, mas por acreditar na educação como forma de transformação social. Acho que o sistema educacional brasileiro ainda carece de bons professores, interessados pela educação, preocupados com os estudantes e com vontade de transformar esse mesmo sistema educacional.
Nesse blog, pretendo refletir sobre a educação, compartilhar experiências, desabafar e, talvez, motivar colegas e futuros professores.

Espero que aqui vocês encontrem textos que os agradem e que os motivem a comentar, discutir, discordar. Acho que é assim que se aprende e assim que se transforma a educação e, quiçá, a sociedade.

Bem vindos ao Dia de Professor. Conto com o apoio de vocês.

Um grande abraço,
Bruno






Ah, com o tempo pretendo me acostumar com a plataforma do blog e melhorar a aparência desta página.