sexta-feira, 11 de maio de 2012

Primeiras impressões

Bueno, agora sim! Hoje é sexta-feira e a felicidade é não ter que preparar a aula que eu vou dar amanhã. Isso porque amanhã será sábado e não terá aula!

Nesses últimos dias devido a correria de preparar aula, dar aula, ir e voltar de Guaíba, além de outras tarefas pessoais, fiquei bem ausente de quase tudo: casa, amigos, dissertação e este blog. Há muito queria voltar aqui e escrever um texto sobre as primeiras impressões da escola em que estou trabalhando, mas não queria que fosse algo superficial, queria poder me dedicar a esta análise do local e pessoas que conheci.

Aqui estou, então. Comecemos pelo local. A escola a que me encaminharam foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental José Carlos Ferreira. É uma escola situada em um bairro um pouco afastado do centro de Guaíba, no bairro Pedras Brancas. Para vocês terem ideia de quão afastado é, existe um pedágio separando a localidade do centro da cidade. Acho que o pedágio seja, talvez, a causa de uma das principais características do bairro: o isolamento. Não só físico - dos 10km e um pedágio -, como simbólico. Este é um bairro que mescla características rurais com urbanas e que talvez a presença do Estado no cotidiano daquelas pessoas seja a própria escola. Tenho a impressão que muitas vezes eles não se sentem parte de uma cidade, mas tem suas identidades vinculadas aquela localidade. O que não quer dizer que eu vejo isso como um problema, mas que pode ser causa de um dos outros grandes problemas que eu vejo: a carência. E aí é uma carência econômica, apesar de que, por ter características rurais, não me parece que o bairro sofra de problemas econômicos a ponto que possa-se dizer que os seus moradores vivam na miséria. Também não é essa a impressão que os alunos me dão. Ainda assim, é um bairro relativamente pobre. Porém, acho que a forma marcante da carência é aquela da falta de interesse por eles. Por essas razões, o colégio é o centro do bairro. É uma das referências que faz com que eles não se sintam tão isolados/abandonados pelo Estado. E é possível ver isso num misto de admiração e orgulho que a escola representa na comunidade. Conversando com alguns professores, tive a confirmação de algo que eu conjecturava: a comunidade e a escola são muito próximas. Isso me deixou muito feliz, porque dá um significado muito maior a esse espaço. Ao meu ver, a escola não deve ser espaço só dos estudantes, mas de toda a comunidade que a cerca.

Fui muito bem recebido na escola. Seja por seu corpo docente, quanto pela direção e demais funcionários. Entre os estudantes percebia-se aquele alvoroço pela chegada de um professor novo. Alguns deles vieram falar comigo, perguntando para quais turmas eu daria aula e de qual matéria, o que prontamente foi respondido. Confesso que me senti um tanto estranho com o olhar dos alunos. Acho que um pouco de timidez, mas também de um pouco de receio de não cumprir as expectativas que aqueles olhos curiosos depositavam neste novo professor. Pois bem, as minhas turmas serão três do sexto ano e outras três do sétimo (antigas quintas e sextas-séries, respectivamente). Como fui conhecer a escola numa quarta-feira, não tive aula nesse dia. Quarta-feira é o dia em que os professores de História e Geografia não dão aula no município para se dedicarem as atividades extra-classe. Mas no próximo dia (quinta-feira, 3 de maio), eu já encararia duas turmas de sétimo ano. Não vou descrever turma por turma, mas de forma geral são turmas não muito grandes (quem dá aula na rede estadual sabe como pode ser grande o números em uma sala). Entre 20 e 30 alunos em cada sala, sendo as turmas do sétimo ano menores do que as do sexto. As turmas do sexto ano são as mais complicadas de trabalhar. Muitos alunos ainda são bastante imaturos, dispersam com muita facilidade e um bom número apresenta problemas cognitivos moderados a graves. Isso faz com que as aulas sejam sempre muito truncadas. Apesar de ter conversado intensamente com eles na primeira aula sobre o fato de que as aulas dependem tanto deles quanto de mim, foi perceptível a ineficiência desta conversa na formação de um espírito responsável em sala de aula. Muitos não conseguem se concentrar por muito tempo e alguns tem dificuldades em pontos básicos da alfabetização como ler, escrever, somar e diminuir. Além disso, as turmas de sexto ano combinam em uma mesma sala, alunos de 10 anos e alunos de 14 ou 15 anos. Apesar de tudo isso, a imensa maioria deles foi muito receptiva com a minha chegada e foram atenciosos e respeitosos, o que não significa que eu não tive que, insistentemente, pedir para que fizessem silêncio, prestassem atenção ou parassem de frescura.

Já nas turmas de sétimo ano as coisas funcionam um pouco melhor. Já são mais maduros e tem uma noção um pouco maior do que é o espaço escolar. Os problemas cognitivos já não aparecem com tanta frequencia. São turmas menores, o que torna o contato com cada aluno um pouco mais próximo. Eles tem uma consciência maior de quando estão errados. O que não os impedem de gritar, bagunçar ou ficar de arreganho. A diferença é que, quando chamada a atenção, eles se sentem um pouco culpados. Alguns alunos dessas turmas são casos mais complicados, mas é algo que não impede que a aula, como um todo, seja mais tranquila e cumpra seus objetivos. Ontem eu recebi uma grata surpresa. Uma das turmas do sétimo ano me escolheu como professor conselheiro da turma. Fiquei muito feliz com a notícia e hoje eu conversei com eles sobre as responsabilidades que isso me imputava. Acho que eles entenderam que isso vai nos tornar mais próximos e que, em alguns momentos, isso pode não ser legal. Isso porque, no geral, eu que vou ser o responsável por intermediar a relação deles com a escola. E eu que vou fazer a maior parte da cobrança sobre eles. De qualquer forma, acho que essa turma não trará grandes problemas que precisem de conversas mais sérias. Hoje mesmo fizemos um acordo na aula que foi fielmente cumprido por ambas as partes, mas em outro post eu comento sobre isso.

Outra coisa que não falei foi sobre a estrutura da escola. Esse é outro ponto favorável para quem trabalha por lá. A escola é muito boa em termos de estrutura. As salas são bem adequadas ao tamanho das turmas, há uma pequena biblioteca, os banheiros estão bem conservados, há uma sala de informática bem equipada, além de equipamentos audiovisuais bem atualizados permitindo, inclusive, que sejam levados à sala de aula. A sala dos professores, apesar de eu passar pouco tempo lá, é bem confortável. O único porém, e alvo da reclamação de 9 entre cada 10 estudantes, é a situação da quadra de futebol. O estado dela, porém, é explicado pelas obras que estão ocorrendo na escola. Além da reforma da quadra, estão sendo construídas outras salas de aula. Não comentei também sobre outra característica interessante da escola, por não querer dar demasiado destaque para ela: por ficar localizada em uma região afastada do centro, os docentes que lecionam lá recebem um auxílio financeiro referente ao difícil acesso. Como sair de Porto Alegre e ir até Guaíba é difícil para mim, melhor ganhar um pouco mais por isso, né?! Mas talvez esse seja o menor dos atrativos que eu vi nessa escola.

Em geral, as primeiras impressões foram essas. O saldo das dificuldades/qualidades é bem positivo, ao meu ver. Acho que a escola apresenta ótimas condições para o exercício de uma educação de qualidade, que forme cidadãos conscientes e inteligentes. Em outro post eu explico esse comentário mais detalhadamente, mas eu vejo que o grupo de professores que está lá é bem capaz de tornar isso em realidade. Estou chegando, querendo muito acrescentar coisas positivas para essa galera. O que vem em seguida ainda está por ser descoberto.

3 comentários:

  1. Brunão, parabéns. Só de ler o post, já fiquei super afim de adentrar esse mundo tão maravilhoso e ao mesmo tempo tão assustador que é o magistério. E assustador que digo, não é no sentido negativo da violência, mas do medo que dá de entrar numa sala de aula, de ser fulminado por aqueles olhos questionadores. Sempre desejei ser professor, mas de uns tempos pra cá, entre uma apresentação de texto e outra, acabei me convencendo que talvez a pesquisa se encaixe melhor comigo. Entretanto, lendo teu post, não posso negar que um misto de curiosidade e medo chegaram até mim, e talvez eu retome a ideia inicial de lecionar. De qualquer forma, parabéns novamente, e acredito que este blog vai instigar outros assim como eu a enfrentar a sala de aula.
    Grande abraço.
    Paulo Gonçalves.

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  2. Eai, Bruno. Legal a ideia do blog, acho que o exercício da docência tem que ser sempre acompanhando da reflexão sobre o trabalho que esta sendo desenvolvido. As dificuldades são inúmeras, mas só de ver que tu ta muito afim de fazer um bom trabalho já é um indicativo de que tu vai conseguir.
    Tenho certeza que tu vai conseguir ser uma presença positiva na vida de muita gente.
    Abração
    Guilherme

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  3. Que legais teus posts Bruno! É bom compartilhar tuas experiências com outros! Vai firme que vais ser vitorioso!

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