Muito
tem se falado na mídia e nas redes sociais sobre a altíssima proporção de
candidatos reprovados no último concurso do magistério estadual no Rio Grande
do Sul. De posições bem ao estilo Lasier Martins, afirmando que esse alto
índice de reprovação só mostra como os professores são pessimamente formados e
que isso se reflete na péssima qualidade do ensino público (desculpa, Lasier,
mas vai conhecer um pouco mais a fundo o ensino público e saber onde realmente
estão os problemas. Sobre a formação dos professores, num próximo momento, eu
escrevo sobre isso aqui) até o pessoal mais pragmático afirmando que uma prova
que reprova mais de 90% dos candidatos não pode estar correspondendo com a
realidade. De críticas aos professores a críticas as provas, muitos se
esqueceram de olhar para a própria questão em debate: o ensino público.
Com
certeza diversos fatores levaram a reprovação em massa. Mas sabe qual eu acho o
mais importante? O de que a profissão de professor está se tornando cada vez
mais desinteressante... Por que isso? Porque eu acredito que 80%, pelo menos,
das pessoas que foram lá fazer o concurso o fizeram por tabela, só por fazer.
Alguém realmente vai se dedicar a estudar para um concurso e ficar feliz em
receber menos de R$ 800,00 e ainda trabalhar em um sistema educacional como o
do estado do Rio Grande do Sul que só não está morto por falta de quem decrete
a morte anunciada? Muitos desses que passaram não vão trabalhar por muito tempo
na rede estadual, muitos vão continuar fazendo concursos melhores, vão passar e
vão evadir. Esse não é o último concurso da vida desses professores. E agora,
por que se matar estudando se todos já tem consciência que vai ser algo
passageiro, até algo melhor aparecer? Não há tesão, não há vontade de se
dedicar, não há muita felicidade em ser aprovado em um concurso que vai te
levar a um emprego que remunera mal, que apresenta condições extremamente
precárias de trabalho, que a população em geral e, principalmente, os
"nossos governantes" não dão o menor crédito.
É
só ver os concursos da área jurídica, por exemplo. Em nenhum desses o salário
do candidato aprovado e convocado ao trabalho é menor do que R$ 3.000 ou R$ 4.000
e isso levando em conta que exigem escolaridade básica somente. Se formos olhar
para aqueles concursos de diversas áreas que exigem formação superior, esse
valor pode chegar a números bem mais altos. E são nessas carreiras que há uma
penca de “concurseiros”, gente se matando de estudar, pagando cursinhos caros e
estudando por anos e anos a fio. É uma questão de matemática econômica: vale a
pena gastar R$ 2.000 em um cursinho que te prepara para uma carreira que tu vai
ganhar pelo menos o dobro disso por mês. E será que vale a pena investir mais
dinheiro (além de todo aquele gasto na formação superior – faculdade, livros, Xerox,
alimentação, transporte, etc.) em um concurso que vai te remunerar tão
cretinamente? Eu mesmo comprei uma apostila de R$ 40,00 para estudar porque
estava desesperado, sem emprego e sem grana. Mas assim que fui chamado a
trabalhar em Guaíba, atirei pro alto esse concurso do estado. O fato de ter
passado talvez tenha sido uma mera coincidência.
Enfim,
já estou me alongando em um texto que era só para ser uma resposta a um
comentário no Facebook. Para resumir, acho que sim, as faculdades não preparam
os estudantes para a vida de professor. Mas a função da faculdade não deve ser
aprovar os estudantes em provas de concursos que todos sabemos que são baseadas
em modelos bem ultrapassados e em uma decoreba desgraçada. A prova foi, sim,
horrivelmente formulada. Até agora não entendi direito a distribuição do número
de questões e do valor de cada uma (sendo que as questões específicas eram em
menor número e tinham o menor valor na composição da nota). Mas o pior de tudo,
no meu ponto de vista, é como isso reflete o desinteresse geral que atingiu até
mesmo o grupo que é o último a abandonar o barco da educação – os professores –
quando se trata do magistério estadual do Rio Grande do Sul. Se liga, governo, daqui
a pouco não vai ter mais ninguém interessado em trabalhar nas escolas
estaduais...
Onde eu assino embaixo?
ResponderExcluirJá está assinado!
ResponderExcluirConcordo em número, gênero e grau. Eu sou um que deixou de fazer este concurso por achar que não valia a pena.
ResponderExcluirÉ triste o que ta sendo feito com uma profissão tão importante como é a do professor.
Gostei muito de ler estas considerações, vou fazer o possível para divulgar. Abraços. Fernando Seffner
ResponderExcluirBelo texto! Parabéns!
ResponderExcluirÉ muito triste ter que compartilhar a concordância com o teu depoimento. Um dos únicos princípios de solução que vejo neste quadro é focado em nós mesmos na nossa atuação no "front de batalha" das escolas junto aos alunos, construindo mais consciência às suas mentes e às suas atitudes diante deste seríssimo problema. Bem, fico feliz que, no que depender de algumas pessoas que estarão entrando em sala de aula entendem neste momento que, mesmo ganhando pouco, a formação daquele ser, o educando, é de fundamental importância para que a realidade que atualmente impera sobre a situação da educação no estado se transforme. Gabriel Xambão
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