quinta-feira, 5 de julho de 2012

Aluno ou estudante?

É engraçado como algumas pequenas coisas fazem diferença em sala de aula...
Antes de explicar um pouco essa frase, só queria dizer que a minha ausência deste espaço nas últimas semanas não significa o abandono dele, mas a correria que tem sido meu dia-a-dia ultimamente. Vou tentar ter mais assiduidade a este blog.

Enfim, a reflexão de hoje é fruto de quase dois meses de relação com os alunos. Não parece ser muito, cada turma deve ter tido no máximo 9 aulas comigo, mas já começa a aparecer a constituição de uma relação diferenciada entre o professor (eu) e os estudantes. E tudo isso devido a pequenas coisas que não são nem parte de um esforço para ser diferente, mas que fazem parte de alguém que pensa que todas as relações humanas devem ser baseadas no respeito e na quebra de pré-conceitos.
Logo que eu comecei a escrever esse blog eu pensei muito que uma das próximas postagens que eu faria seria sobre a palavra "aluno". Não sei se todos já pararam para pensar sobre isso, mas uma pessoa que foi muito importante para a minha formação já lá no segundo grau (naquela época era segundo grau ainda) um dia trouxe essa reflexão para mim e um grupo de amigos: qual é o significado da palavra aluno? "A" seria um prefixo grego, que tem significado de privação, negação. Já "luno" viria do latim "lumen", luz. Seria então o aluno um "sem luz"? Que precisaria de alguém que o levasse a luz que preencheria-o de conhecimento? Mais uma das formas de interpretação da tábula rasa? Não que eu seja um mestre em etimologia ou coisa assim, mas com uma pequena busca no Wikipédia mostra que essa interpretação de aluno como "sem luz" seria fruto de uma interpretação errônea da origem da palavra. Mesmo sendo uma etimologia falsificada, não deixa de ser verdade que muitas pessoas tem a percepção de que aqueles que estão na escola são passivos na educação, que recebem dos professores o ensino, conhecimento, valores... Disso não foge muito da etimologia proposta pelo Wikipédia que remete a criança de peito, lactante e diz que "o termo aluno aponta, portanto, para a ideia de alguém imaturo, que precisa ser alimentado na boca e exige ainda muitos cuidados paternais ou maternais". Mais uma vez é aquele que tem que ser levado ao alimento, passivo, inerte, desprovido de algo. Por isso sempre preferia a palavra "estudante", que no fim se refere à mesma coisa, mas sem toda aquela carga de passividade empregada na palavra "aluno". Mesmo assim, as vezes é complicado não escrever aluno, é digitado muito automaticamente no desenvolver do texto.
Independente da palavra, acho que o mais importante para um professor que espera que os estudantes (olha, quase escrevi aluno de novo) façam parte e entusiasmem-se pela educação seja entrar em sala de aula com o peito aberto e considerá-los como alguém não inferior. E é nesse espírito que eu entrei em todas as aulas até hoje e é a partir disso que aparecem as pequenas coisas que fazem uma grande diferença: dar boa tarde, perguntar se está tudo bem, dar um sorriso, pedir por favor, perguntar se alguém gostaria de fazer alguma pergunta ou tem alguma dúvida. E vocês aí devem pensar: "mas que nada a ver, o Bruno escreveu tudo aquilo antes para dizer que dar boa tarde faz diferença na educação" e eu digo: "Sim, faz muita diferença". No início os estudantes estranham: "Professor, porque tu sempre diz 'por favor' depois que pede para a gente fazer alguma coisa?", "Sôr, ninguém pergunta nada. Não adianta insistir!". Mas depois começam a aparecer os resultados: "Bah, o sôr é o único que sorri nas aulas", "Odeio quando algum professor manda eu fazer alguma coisa", "Sôr, eu tenho uma pergunta!".
O lance é que os estudantes tem que ir para a escola e eles querem acabar aproveitando aquele espaço para fazer algo que possa lhes dar prazer e diversão e enquanto os professores forem os chefes deles, nunca vão fazer parte da diversão. Se aproximar dos estudantes, encará-los como criaturas que pensam, que tem interesse em alguma coisa, que tem sentimentos, é um passo fundamental para fazer da escola um espaço menos agressivo e opressor. Não estão no conteúdo, na disposição das classes, na estrutura da escola, a opressão e a agressividade. Estão na forma com que as pessoas se relacionam e, fundamentalmente, na oposição de interesses de professores e estudantes. Enquanto professores encararem estudantes como alunos e estudantes encararem professores como patrões a escola estará fadada a permanecer na relação de opressão e sabotagem tão comum no sistema em que vivemos...

2 comentários:

  1. Bruno,
    Como disse antes... deve ser duro acertar a medida entre saber se colocar na figura de professor e com toda a responsabilidade que exige isso, e um "amigo" que deixa os ESTUDANTES mais livres para expor suas dúvidas.
    Fico muito orgulhosa de conhecer um professor que em 2 meses, talvez não tenha acertado ainda essa medida, mas já percebeu que precisa ir ao alcance dela!!!
    Belo texto!!!!

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  2. eu me incomodo com a denominação aluno também, exatamente pela compreensão que ela carrega em si. Muitas vezes, minhas avaliações trazem a definição Educadora e educandos, um resquício Freiriano, com toda a certeza. O objetivo é mostrar que eu também estou nessa relação de ensino-aprendizagem, e aprendo sempre com eles e eles sabem disso.
    Além da educação e do respeito a galerinha (como os chamo) sabem quando tu gosta do que faz, quando gosta do pó de giz, do convívio com eles, da relação estabelecida, do conteúdo. Se ainda não te falaram, provavelmente falarão, "Sor, teus olhos brilham quado tu fala!" Fale a pena fazer o que se gosta!

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